No segundo semestre de 2017, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC) foi selecionada pela Comissão Europeia (CE), num total de 64 candidaturas, para integrar uma ação-piloto, que teve como objetivo promover e estimular as pequenas e médias empresas (PME) da Região Centro na transição para uma Economia Circular.
Esta ação – “Boosting the circular economy amongst SMEs in Europe” – foi promovida pela DG Ambiente e destinou-se a organizações de apoio às PME, a entidades que trabalham em “soluções verdes” e a autoridades regionais da União Europeia, onde a CCDRC se enquadra.
O objetivo do projeto centrou-se no apoio à CCDRC para a elaboração de um plano de ação que visasse a adoção de medidas consideradas essenciais para uma transição eficaz das PME para a economia circular.
Para apoiar a CCDRC neste piloto, foi selecionada a consultora holandesa KPMG que promoveu durante os dias 3 e 4 de outubro de 2018, uma visita de peritos para conduzir um conjunto de reuniões de trabalho de forma a fazer uma análise do tecido empresarial e inovador da região, no que diz respeito à sua atuação em domínios ligados à economia circular. Para este efeito foram convidados a participar nas reuniões alguns agentes regionais (empresas, associações empresariais, entidades de interface e de transferência de conhecimento, autoridades locais) que contribuíssem com o seu conhecimento e a sua experiência relativamente a práticas circulares, na identificação de uma estratégia adequada às PME da região Centro.
Durante os dois dias de trabalho foram organizadas seis sessões, contando cada uma com 3 a 4 participantes da região Centro, para além da equipa da CCDRC que acompanha a temática da economia circular e de dois peritos da KPMG, Jeroen van Muiswinkel e Victor Custers.
Entidades participantes:
- Empresas: RCD, Verallia, FPT – Energia e Ambiente, SA, EcoXperience, Intercycling, SA, CS – Coelho da Silva, SA.
- Administração local/regional: CIM Coimbra, CM Viseu
- Entidades de interface/transferência do conhecimento: Itecons
- Entidades de transferência de tecnologia/incubadoras: IPN, Biocant, BLC3
- Associações empresariais: AIDA, NERLEI, APICER, AEBB, CTCV
- Clusters: Cluster Habitat Sustentável
Durante as reuniões os participantes partilharam as suas experiências em termos de atividades e conhecimentos relativos à economia circular, e ouviram algumas ideias e exemplos holandeses de boas práticas circulares.
Algumas notas que resultaram das sessões:
- Dar a conhecer de forma clara o que significa o termo “economia circular”, dando conta que é um termo complexo, com diferentes dimensões (económica, social, ambiental) e que diz sempre respeito a um modelo colaborativo entre setores de atividade e atores e circular (re(usar) re(fazer) re(ciclar);
- Importância dos novos modelos de negócio. Estes modelos não se referem apenas a novos setores e a novas áreas de atividade, mas também a atividades intersectoriais e à necessidade de trabalhadores qualificados;
- EX-TAX: Taxar os materiais/recursos, não o trabalho/mão de obra;
- Pensar na economia circular como um esquema de inovação;
- Fazer um mapeamento dos stakeholders da região que têm práticas circulares, colmatando a falta de informação sobre as atividades circulares de entidades da região;
- Envolvimento dos big players, grandes empresas como a SONAE e a Jerónimo Martins, promovendo a sua articulação com as PME.
- Uma das barreiras à transição para a economia circular não é tanto a questão de não existir regulamentação, mas a questão de não haver fiscalização.
- As dificuldades que as PME passam na implementação de práticas circulares dizem respeito à:
– necessidade de um grande investimento sem certezas de retorno financeiro (solução: dividir os custos de investir na EC);
– falta de sinergias entre empresas para efeitos de cooperação e reaproveitamento de recursos;
– falta de conhecimentos ou sensibilização sobre o impacto da economia circular nas suas atividades.
- Os municípios (e a administração pública) podem servir de exemplo criando as necessárias infraestruturas para promover a economia circular, nomeadamente no que diz respeito à gestão dos resíduos e à separação dos resíduos: mais ecopontos, mais/melhores mecanismos de recolha, soluções para o lixo orgânico doméstico; taxas e regulamentações e posterior supervisão; incentivos; exemplos e através das compras públicas;
- Importa mudar aquilo que é percecionado como lixo ou resíduo, dando-lhe outro nome, atribuir-lhe uma função, dar-lhe uma identidade;
- Enquanto que 25% da Economia Circular é técnica, 75% é social. Isto implica cooperação, colaboração, mudança comportamental;
- O envolvimento da comunidade é crucial para a implementação eficaz de soluções circulares;
- A disseminação de bons exemplos e boas práticas circulares pode ser usada para educar, sensibilizar e formar o público;
- Integração em plataformas de matchmaking para empreendedores com práticas sustentáveis;
- As compras públicas são uma ação-chave para fomentar a procura e estimular o mercado;
- Ainda há alguma confusão/falta de informação sobre aquilo que deve ser/pode ser reciclado e/ou separado;
- A taxa de reciclagem em Portugal ainda é baixa, nomeadamente no vidro e no óleo alimentar;
- É fundamental pensar no desenho do produto e/ou do serviço. Como tal, o ecodesign é crucial e o seu desenvolvimento implica envolver as Universidades.
Após as reuniões e com o apoio das informações entretanto recolhidas, os peritos da KPMG forneceram à CCDRC um conjunto de recomendações e estratégias para fomentar e acelerar a transição da EC nas PME da região Centro, que culminou num relatório sobre a região no que diz respeito ao seu potencial de circularidade e que inclui um plano de ação para apoiar a transição das PME para uma economia mais circular.
A CCDRC foi também convidada a participar na conferência final desta ação-piloto, que decorreu nos dias 6 a 7 de dezembro de 2018 em Bruxelas, e onde apresentou as suas conclusões sobre o trabalho desenvolvido em parceria com a KPMG e os projetos planeados em torno desta temática.
